sábado, 29 de outubro de 2011

Amigo cadê você?

Já publiquei este artigo, mas resolvi reeditá-lo, vejamos:
Outro dia escutei alguém dizer "amigo de verdade é coisa rara", então comecei a pensar sobre isso e infelizmente tive que concordar. O que é ser amigo? Esta palavra é intrigante, Amigo. 
O amigo pode ser raro mais ele existe; amigo é difícil de achar ou conquistar, mas existe. O número daqueles que se classificam como amigos é tão pequeno que as vezes chegamos a pensar que eles não existem; mas porque será?
Me parece que nesses dias em que vivemos alguns fatores contribuem para a raridade dos amigos, pois o Apostolo Paulo, com uma visão escatológica afirma em sua segunda carta a Timóteo "Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos, porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te..." (II Tm 3. 1-5).
Vivemos em dias difíceis em que o certo parece errado, os interesses próprios se destacam em detrimento ao interesses dos outros, ninguém se importa com niguém, como já diz o famoso ditado "cada um por si e Deus por todos". 
Amigo de verdade existe, mas tem que ser achado e quando for achado deve ser guardado debaixo de sete chaves, bem dentro do coração, como diz a canção de Milton Nascimento. 
Para achar esse amigo devemos nos orientar através de um "mapa", uma "Bússola", ou seja, precisamos de um "norte". Portanto, vejamos algumas características, que, ao mer ver, nos apontam o verdadeiro amigo:
- o amigo é aquele que você gosta de compartilhar seus segredos, suas dúvidas, seus medos;
- o amigo é o seu conselheiro nato, diz a verdade, pois quer seu bem;
- o amigo não te abandona nunca, mesmo quando outros já te abandonaram;
- o amigo te aceita pelo que você é e não pelo que voce tem;
- o amigo mesmo distante fisicamente, esta perto;
- o amigo é aquele que sente saudades de você e não perde a oportunidade de estar junto;
- o amigo te respeita e te aceita mesmo com os seus defeitos, pois os defeitos se tornam tão insignificantes diante do que ele enxerga em você, muitas virtudes;
- o amigo ama você e usa as coisas, os outros te usam e amam as coisas;
- o amigo não trai, não te troca por posição, status, promessas, favorecimento próprio, etc;
- o amigo é grato e nunca se esquece de tudo que fizemos, ou foi feito, por ele. 
Enfim, eu poderia aqui descrever mais algumas características, mas creio que essas são suficientes. 
Na verdade o problema é que precisamos de amigos, verdadeiros amigos, pois eles nos fazem bem, são importantes, mas tenhamos cuidado, pois os falsos amigos nos trazem muitos males e tristezas.
Voce poderia estar pensando "só Jesus é o verdadeiro amigo", concordo, mas até Jesus teve amigos. Chamava os seus discipulos de amigos, embora um deles o traiu e recebeu o premio que um traidor deve receber, mas a verdade é que precisamos de amigos, pessoas como nós, pois somos seres gregários. 
Encontramos amigos em nossa intimidade, como por exemplo nossos pais, nossa esposa ou esposo, nossos filhos, parentes e pessoas que encontramos por este caminho, pois como disse o sábio salomão "há amigos mais chegado do que um irmão", mas precisamos de amigos. Que Deus nos abençõe!


Pr Pedro Pereira

A Reforma Protestante, será que não estamos precisando de outra?



Quando observamos a política secular e eclesiástica influenciando os nossos líderes, em detrimento a direção de Deus; quando observamos na igreja local facções, disputas, traições, corrupções, alianças espúrias, nepotismos, líderes em busca por vantagens pessoais e por cargos; e a evangelização, socorro aos necessitados, ministração aos enfermos e fracos na fé, fidelidade doutrinária e outras atividades semelhantes em segundo plano ou até extintas, temos um claro sinal que precisamos urgente de uma "reforma".

Quando observamos os dízimos e ofertas sendo ensinados de forma a arbitrária e não bíblica, com a finalidade de enriquecimento pessoal, benefício próprio ou como "indulgências", ou seja, quem não contribuir vai pro inferno, é ladrão, é maldito, mas se contribuir não vai ficar doente, vai ser o predileto por Deus, vai receber curas e vitórias. Esquecem-se ou não pregam sobre a graça e fé. Enfatizam o que interessa em detrimento a verdade bíblica, ou seja, o dar é voluntário, com alegria, não por necessidade ou por tristeza; e mesmo que eu não tenha nada para dar, assim mesmo a misericórdia e a graça de Deus estará comigo. 

Em vez disso, o que vemos é uma exploração aos incautos e ignorantes, que por medo e pressão acabam dando até aquilo que não tem. Que Deus tenha misericórdia desses mercenários. Pior fica quando o assunto é a forma ou o destino dessa contribuição, será que é para ajuda aos necessitados (pobres e viúvas)? Será que é para o sustento de todos os que ministram no altar? Será que é para os eventos e necessidades da igreja? Pois, era exatamente para isso o destino dos dízimos e as ofertas no VT. Ou será que é para o enriquecimento de poucos? Ou para gastar com viagens ditas "missionárias"? Mas, na verdade, são passeios e viagens turísticas de alguns, enquanto missionários de verdade passam por necessidades. Ou será para a construção de obras "faraônicas"? Onde o único intento é deixar seu nome e ser lembrado. Ou será...? Bom deixa eu parar por aqui.

Segundo o Pr Altair Germano, homem de visão, a reforma é algo necessário e urgente, realizada por homens comprometidos com a verdade: 
"Reformas não são movimentos de um só homem, é fruto da associação de mentes críticas, inteligentes, questionadoras, e de corações que ardem em zelo, inclinados a buscar, conhecer e fazer valer a vontade de Deus para uma geração, custe o que custar. 
Reformas são possíveis em tempos onde o monopólio do conhecimento e da informação são quebrados. Vivemos em um tempo propício para reformas, e isso graças ao advento da internet. As mídias e o jornalismo oficial das mais diversas denominações e segmentos evangélicos perderam o controle sobre a informação. Vivemos na era dos blogs e das redes sociais onde a notícia e a informação fluem e correm numa velocidade vertiginosa, jamais vista ou contemplada por outras gerações. 
Reformas não acontecem da noite para o dia, antes, são resultados de processos que se iniciam com o reencontro do cristão com a Palavra de Deus, que desencadeia uma tomada de consciência, arrependimento genuíno, conversão, ação e influência. A nossa rendição em forma de silêncio ou conivência diante de qualquer tipo de corrupção, seja ela de ordem moral ou espiritual, nada mais é do que a manifestação da rendição de nossa própria consciência".

Dia 31 de outubro - dia da Reforma Protestante, deve ser aproveitado para refletirmos: 
O que estamos fazendo? O que nossa igreja esta fazendo? Como está o Evangelho em nossos dias? O que esta sendo pregado em nossas igrejas? Qual é a prioridade dos nosso líderes?

Que Deus desperte em nós o que despertou no coração dos reformadores, como Martinho Lutero, Ulrico Zwinglio, João Calvino, John Huss, John Wicliffe, Savonarola, etc.

Que a nossa igreja, pregações e vida estejam dentro dos cinco solas da reforma:
Sola Scriptura (a Escritura inerrante como fonte única de revelação divina escrita, única para constranger a consciência); 
Solo Christus (nossa salvação é realizada unicamente pela obra mediatória do Cristo histórico); 
Sola Gratia (somos resgatados da ira de Deus unicamente pela sua graça); 
Sola Fide (a justificação é somente pela graça somente por intermédio da fé somente por causa de Cristo); 
Soli Deo Gloria (a salvação é de Deus e realizada por Deus, ela é para a glória de Deus e devemos glorificá-lo sempre). 

Que Deus nos abençõe!

Pr Pedro Pereira

VIVENDO DIAS DE “OUTRO EVANGELHO”



             Ouvi de um amigo irmão, que na sua “igreja” estavam distribuindo lenços “ungidos” para Deus abrir porta de emprego, realizar curas, solucionar problemas, etc. Bom pelo que eu entendi se você adquirisse o tal “lenço ungido”, por um determinado valor, pois segundo a pessoa era para ajudar na obra de Deus, você seria abençoado.
            Já outro dia escutei um testemunho de um determinado irmão que ele havia sido livrado da morte, em um assalto que sofrera, os meliantes levaram seu veículo e sua mercadoria de trabalho, mas sua vida havia sido poupada, até ai tudo bem, mas para meu espanto o dito irmão continuou o seu “tristemunho” dizendo que na hora do assalto orava dessa forma: “Senhor sou dizimista na sua casa e por isso livra a minha vida da morte...” e agora exortava o povo da igreja “irmãos Deus me livrou da morte porque eu sou um dizimista fiel na casa de Deus, seja dizimista também e Deus vai te livrar...”.
            Meu Deus! Estou realmente preocupado com esse “evangelho” que estamos vivenciando, certamente com a influência do movimento neopentecostal, estamos sendo bombardeados por um “outro evangelho”. Vejamos com calma, a luz das Escrituras, as duas situações acima:
            Na primeira situação estamos presenciando “um evangelho” carregado de misticismo, fetichismo e superstição. O que “um lenço ungido” pode fazer? Jesus nos ensinou que somente na autoridade do seu Nome seriam realizados as grandes obras ou milagres, vejamos: “E estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas; pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão...”. Atribuir a “um lenço ungido” a realização de alguma benção revela um total desconhecimento bíblico ou um pragmatismo religioso muito praticado no meio neopentecostal, ou seja, a maioria das igrejas, por influência ou não, de uma linha neopentecostal, não estão interessadas se o tal “lenço ungido” é bíblico ou não, mas apenas se esta dando certo ou se a prática esta funcionando dentro do que era “esperado”. O que era “esperado” entendemos o seguinte: Esta entrando dinheiro? Esta enchendo os cultos? Esta atraindo o povo? Se a resposta for positiva, continuaremos a fazer; porém, sem a preocupação do que a bíblica diz, sem a preocupação Escriturística. Usar o texto de At 19.11,12, como alguns fazem, carece de alguns comentários, vejamos: “E Deus pelas mãos de Paulo fazia maravilhas extraordinárias. De sorte que até os lenços e aventais se levavam do seu corpo aos enfermos, e as enfermidades fugiam deles, e os espíritos malignos saíam...”. Como verificamos Deus fazia maravilhas através de Paulo e não do “lenço”; além disso, não era Paulo que distribuía ou vendia os lenços, como é feito hoje, mas algumas pessoas levavam os lenços e aventais de Paulo. Na verdade o que esta em foco é a unção de Deus que estava na vida de Paulo e não o objeto (lenço); portanto isso não é um dogma ou doutrina, pois em nenhum lugar nas Escrituras se manda “ungir” lenços ou coisa parecida para curar ou para receber uma bênção qualquer. A exemplo de unção como a do Apostolo Paulo temos o caso do profeta Elizeu, que ao ser tocado por um soldado morto, o ressuscitou. Falando de Unção o único texto neotestamentário que fala da unção com óleo esta em Tg 5.14,15 -  Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor; E a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados”. Dentro disso podemos considerar o seguinte: primeiro, a unção deve ser solicitada pelo doente; segundo quem tem autoridade para ungir é o presbítero (pastor, ancião, bispo); terceiro, quem cura é a fé, através da oração e não o simples fato da unção; e quarto, a unção era apenas um símbolo da cura, pois pelo costume judaico a unção (passar, friccionar) era utilizada no auxilio das enfermidades e feridas. Em suma, não se vê nos textos neotestamentário ninguém ungindo objetos, coisas, lenços, etc, mas ungindo pessoas, enfermas e pelos presbíteros (somente), quando solicitados pelos doentes. Portanto, não há nenhuma base bíblica (nossa regra de fé e conduta) para distribuirmos ou pior vendermos “lenços ungidos” com promessa de cura ou facilitador de benção. E dizer que isso é só um estimulo para a fé, basta lermos a Palavra de Deus em Romanos 10.17 “De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus”. Logo, o estimulo eficaz e eficiente para ter fé é “ouvir a Palavra de Deus”.
            Na segunda situação o caso é sério, pois substituímos a graça (favor imerecido) de Deus por uma obra (dar o dízimo). Atribuiu-se o favor de Deus, que nos livra pela sua infinita graça e amor, ao simples fato de dizimarmos. Não esta em questão, aqui, o fato de dizimar, que inclusive deve ser feito voluntariamente, não por força de Lei; deve ser feito com alegria, não com tristeza. Agora usar isso como obra meritória, exclui a graça de Deus e vai à contra mão das Escrituras. Na verdade observamos que muitos para forçar uma boa entrada financeira na sua igreja usam argumentos como esses, dizendo aos irmãos que quem dizima esta livre das doenças, dos males, do desemprego, dos assaltos, na pobreza, dos gastos em farmácias, etc, levando os crentes incautos a acharem que porque dizimam passam a ser crente de primeira categoria e privilegiados, portanto isentos de qualquer mal. Porém, como são pessoas cristãs sujeitas também a passarem por tribulações, como disse Jesus “no mundo tereis aflições...” Jo 16.33, certamente passarão por várias tribulações, ou seja, mesmo dizimando: ficarão doentes; terão gastos em farmácias; serão assaltados; serão injustiçados; passarão até por privações financeiras; etc.
            Jesus nos mostra claramente em Lucas 18.9-14: “E disse também esta parábola a uns que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros: Dois homens subiram ao templo, para orar; um, fariseu, e o outro, publicano. O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na semana, e dou os dízimos de tudo quanto possuo. O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador! Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado”. O texto deixa bem claro que aquele que quer justificar-se pelas suas obras, ou acha-se que têm mais direitos com Deus, pelas obras que pratica, inclusive dízimos, esta grandemente enganado, porém o que reconhecia seu estado de pecador, não dava dizimo, ou pelo menos não usava isso como algo meritório, saiu justificado e abençoado, pois se valeu, suficientemente, da Graça de Deus e não da sua justiça.
            Devemos irmãos tomarmos cuidado para que a falta de conhecimento sólido das escrituras, no nosso meio evangélico, não acabe nos distanciando dos dois alicerces cristãos básicos, graça e fé. Pois, com o afastamento destes dois alicerces fundamentais do cristianismo, abriu-se uma fenda histórica com a tradição apostólica.
É bom lembrarmos que a Graça impulsionou o cristianismo para tempos mais leves. Foi a Graça que acabou com a lógica retributiva que mostrava Deus como um bedel a exigir penitência. Devido a Graça entendeu-se que a sua ira não precisa ser contida. O cristianismo medieval fora infectado por um paganismo pessimista e, por isso, sobravam espertalhões vendendo relíquias e objetos milagrosos que, segundo a pregação, “garantiam salvação e abriam as janelas da bênção celestial”.
Lutero, um monge agostiniano, portanto católico, percebeu que o amor de Deus não podia ser provocado por rito, prece, pagamento (indulgências) ou penitência. Graça, para Lutero, significava a iniciativa de Deus, constante, unilateral e gratuita, de permanecer simpático com a humanidade. Lutero intuiu que Deus não permanecia de braços cruzados, cenho franzido,  à espera de que homens e mulheres o motivassem a amar. O monge escancarou: as indulgências eram um embuste. Assim, Lutero solapava o poder da igreja que se autoproclamava gerente dos favores divinos.
Passados tantos séculos, o movimento neopentecostal, responsável pelas maiores fatias de crescimento entre evangélicos, abandonou a pregação da Graça. É preciso ressaltar, de passagem, que o conceito da Graça pode até constar em compêndios teológicos, mas não significa quase nada no dia-a-dia dos sujeitos religiosos.
Os neopentecostais retrocederam ao catolicismo medieval. É pre-moderna a religiosidade que estimula valer-se de amuletos “como ponto de contato para a fé”; fazerem-se votos financeiros para “abrir as portas do céu”;  “pagar o preço” para alcançar as promessas de Deus. Desse modo, a magia espiritual da Idade Média se disfarçou de piedade. A prática da maioria dos crentes hoje se concentra em aprender a controlar o mundo sobrenatural. Qual o objetivo? Alcançar prosperidade ou resolver problemas existenciais.
Termino ressaltando as palavras do grande Apostolo Paulo, escritas em Gálatas 1. 6-8 “Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho; O qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema”.

Sola gratia

Pr Pedro Pereira



           






sábado, 1 de outubro de 2011

JULGAMENTOS PRECIPITADOS – Parábola


Havia numa aldeia um velho muito pobre, mas até reis o invejavam, pois ele tinha um lindo cavalo branco…
Reis ofereciam quantias fabulosas pelo cavalo, mas o homem dizia: – Este cavalo não é um cavalo para mim,  é uma pessoa.  E como se pode vender uma pessoa, um amigo?
O homem era pobre, mas jamais vendeu o cavalo.
Numa manhã, descobriu que o cavalo não estava na cocheira.
A aldeia inteira se reuniu, e disseram: – Seu velho estúpido! Sabíamos que um dia o cavalo seria roubado.
Teria sido melhor vendê-lo. Que desgraça!
O velho disse: – Não cheguem a tanto.
- Simplesmente digam que o cavalo não está na cocheira. Este é o fato, o resto é julgamento. Trata-se de uma desgraça ou de uma benção, não sei, porque este é apenas um julgamento. Quem pode saber o que vai se seguir?
As pessoas riram do velho. Elas sempre souberam que ele era um pouco louco. Mas, quinze dias depois, de repente, numa noite, o cavalo voltou. Ele não havia sido roubado, ele havia fugido para a floresta. E não apenas isso, ele trouxera uma dúzia de cavalos selvagens consigo.
Novamente, as pessoas se reuniram e disseram: – Velho, você estava certo. Não se trata de uma desgraça, na verdade provou ser urna benção.
O velho disse: – Vocês estão se adiantando mais uma vez. Apenas digam que o cavalo está de volta…
- Quem poderá saber se é uma benção ou não?
Este é apenas um fragmento. Se você lê uma única palavra de uma sentença, como poderá julgar todo o livro? Desta vez, as pessoas não podiam dizer muito, mas interiormente sabiam que ele estava errado.
Doze lindos cavalos tinham vindo…
O velho tinha um único filho, que começou a treinar os cavalos selvagens.
Apenas uma semana mais tarde, ele caiu de um cavalo e fraturou as pernas.
As pessoas se reuniram e, mais uma vez, julgaram. Elas disseram: – Você tinha razão novamente. Foi uma desgraça. Seu único filho perdeu o uso das pernas, e na sua velhice ele era seu único amparo. Agora você está mais pobre do que nunca.
O velho disse: – Vocês estão obcecados por julgamento.
- Não se adiantem tanto. Digam apenas que meu filho fraturou as pernas.
- Ninguém sabe se isso é uma desgraça ou uma benção.
- A vida vem em fragmentos; mais que isso, nunca é dado.
Aconteceu que, depois de algumas semanas, o país entrou em guerra, e todos os jovens da aldeia foram forçados a se alistar. Somente o filho do velho foi deixado para trás, pois se recuperava das fraturas.
A cidade inteira estava chorando, lamentando-se porque aquela era uma luta perdida e sabiam que a maior parte dos jovens jamais voltaria.
Elas vieram até o velho e disseram: – Você tinha razão, velho. Aquilo se revelou uma benção. Seu filho pode estar aleijado, mas ainda está com você. Nossos filhos foram-se para sempre.
O velho disse: – Vocês continuam julgando. Ninguém sabe! Digam apenas que seus filhos foram forçados a entrar para o exército e que meu filho não foi. Mas somente Deus sabe se isso é uma benção ou uma desgraça.
- Não julguem, porque dessa maneira jamais se tornarão uno com a totalidade.
Na verdade, a jornada nunca chega ao fim. Um caminho termina e outro começa: uma porta se fecha, outra se abre. Aqueles que não julgam estão satisfeitos simplesmente em viver o momento presente e nele crescer… Somente eles são capazes de caminhar com Deus.
Na próxima vez que você for tirar alguma conclusão apressada sobre um assunto ou sobre uma pessoa, lembre-se desta mensagem!