O
JEJUM NO TEMPO DA GRAÇA
“E,
quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque
desfiguram os seus rostos, para que aos homens pareça que jejuam. Em verdade
vos digo que já receberam o seu galardão. Tu, porém, quando jejuares, unge a
tua cabeça, e lava o teu rosto, Para não pareceres aos homens que jejuas, mas a
teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará
publicamente”. Mt 6.16-18
“Então,
chegaram ao pé dele os discípulos de João, dizendo: Por que jejuamos nós e os
fariseus muitas vezes, e os teus discípulos não jejuam? E disse-lhes Jesus:
Podem porventura andar tristes os filhos das bodas, enquanto o esposo está com
eles? Dias, porém, virão em que lhes será tirado o esposo, e então jejuarão”.
Mt 9 14,15
Esses
dois textos e alguns outros nos trazem princípios Neotestamentário sobre o
Jejum.
Etimologicamente,
jejum é a "privação ou redução de alimentos ou refeições durante o dia ou
outro período de tempo por penitência".
Já o
Jejum Bíblico é uma abstinência voluntária de alimentos por um período definido
e propósito específico. Ele pode ser total ou parcial.
O
Jejum ritualístico era aquele praticado pelo povo judeu com caráter obrigatório
e mecânico, como por exemplo, no dia da expiação onde todo o povo jejuava por
força da Lei. Jesus condenou esse tipo de jejum sem propósito definido e
obrigatório que era de forma genérica praticado pelo povo judeu no antigo
Testamento.
Jesus,
porém, ensina seus discípulos, como súditos do Reino de Deus, os princípios que
norteiam o Jejum Cristão, vejamos:
Primeiro
princípio que norteia o jejum cristão
“Então, chegaram ao pé dele os
discípulos de João, dizendo: Por que jejuamos nós e os fariseus muitas vezes, e
os teus discípulos não jejuam? E disse-lhes Jesus: Podem porventura andar tristes
os filhos das bodas, enquanto o esposo está com eles? Dias, porém, virão em que
lhes será tirado o esposo, e então jejuarão”. Mt 9.14,15
Neste
texto Jesus é indagado do porquê que seus discípulos não jejuavam, pois
alegavam que os fariseus e os discípulos de João Batista jejuavam. Jesus então
os ensina:
“...Podem
porventura andar tristes os filhos das bodas, enquanto o esposo está com eles?”
Jesus era o esposo, Jesus estava com eles, portanto era momento de alegria e
não de tristeza. Jejum remete dias de luto, tristeza, contrição, etc. Jesus é o
pão que desce do céu, é o salvador, o ajudador, a comunhão entre ele e seus
discípulos era estreita, logo Jejuar não tinha lógica. E prossegue dizendo:
“... Dias, porém, virão em que lhes será tirado o esposo, e então jejuarão”.
Aqui
está o primeiro princípio que norteia o Jejum. O Jejum é uma
causa de exceção, deve ser praticado em dias de necessidade.
Necessidade
de mais comunhão, em dias difíceis, em dias de muitas provações, com a intenção
chamar a atenção de Deus em nosso favor. Jesus havia alertado seus discípulos
que depois da sua partida eles seriam perseguidos e viveriam dias de muitas
aflições (Mt 24.9; 10.18,22; Jo 16.33).
Segundo
princípio que norteia o jejum cristão
“E,
quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque
desfiguram os seus rostos, para que aos homens pareça que jejuam. Em verdade
vos digo que já receberam o seu galardão...” Mt 6.16
Neste
texto Jesus orienta que o Jejum deve ser praticado com naturalidade, não deve
ser praticado com intuito de ser visto pelos homens. Os Fariseus costumavam
jejuar publicamente e para serem vistos pelos homens se descabelavam, ficavam
caídos nas calçadas, tinham expressão de sofrimento em seus rostos. Com isso
chamavam a atenção das pessoas, que passavam a comentarem o quanto eles eram
“santos” e “espirituais”; e isso massageava o ego dos fariseus, dando-lhes um
status de homens santos e espirituais. Jesus, porém, disse: “Em verdade vos
digo que já receberam o seu galardão”. Agindo assim não receberiam nada de
Deus, pois seus propósitos eram apenas serem aclamados pelos homens.
O
jejum deve ser praticado com discrição e a intenção deve ser espiritual, veja:
“...Tu,
porém, quando jejuares, unge a tua cabeça, e lava o teu rosto, Para não
pareceres aos homens que jejuas, mas a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai,
que vê em secreto, te recompensará publicamente”. Mt
6.17,18
Portanto,
o segundo princípio que norteia o jejum cristão é que o jejum deve ser
praticado com discrição, em secreto, e com propósitos espirituais e não por
aparência, e não para se mostrar mais santo do que outros.
Terceiro
princípio que norteia o jejum bíblico
“E,
quando jejuardes...”; “...Tu, porém, quando jejuares...”.
Veja
que a expressão “quando” denota que nós os cristãos precisaremos em
algum momento na nossa vida jejuar, mas não por imposição da Lei e sim por
voluntariedade. O Jejum não pode ser ritualístico, de forma mecânica, mas por
consciência voluntaria, sabendo que chegou o momento em que preciso jejuar, com
um propósito especifico e espiritual.
O
terceiro princípio, portanto nos mostra que o jejum cristão “quando” praticado
deve ser de forma voluntária e não por imposição legal, como algo obrigatório
ou ritualístico.
Paulo,
orientando sobre o casamento, nos mostra a necessidade do jejum ser voluntario
e consensual entre o casal, ou seja, se um dos cônjuges quiser se privar por um
período de tempo, de relações sexuais, por motivo de estar jejuando, isso deve
ser feito com a aprovação mútua:
“Não
vos priveis um ao outro, senão por consentimento mútuo por algum tempo, para
vos aplicardes ao jejum e à oração; e depois ajuntai-vos outra vez, para que
Satanás não vos tente pela vossa incontinência”. I Co 7.5
Isso
só reforça a ideia de que o jejum é um ato voluntário e não ritualístico
obrigatório ou legalista.
Quarto
princípio que norteia o jejum cristão
“Mas
esta casta de demônios não se expulsa senão pela oração e pelo jejum”. Mt
17.21
Jesus
orienta seus discípulos que o jejum é um grande reforço para a oração. Existem
situações que a oração deve ser acompanhada pelo jejum, como reforço.
Não
devemos entender aqui que o jejum é uma poção mágica, um ritual poderoso para
expulsar demônios. A regra básica e neotestamentária para se expulsar demônios
é a oração, com a autoridade do nome de Jesus (Mc 16.17). Porém, naquele dia os
discípulos oraram e o demônio não fora expulso, mas ao chegar Jesus o pai do
menino reclama que seus discípulos haviam falhado, Jesus então expulsa aquele
demônio, agora envergonhados seus discípulos o interrogam do motivo de não
terem conseguido expulsar aquele demônio, foi então que Jesus os orienta que há
castas de demônios que exigem de nós oração com reforço, ou seja, com jejum.
Para
entendermos melhor sobre isso precisamos compreender que o jejum, traz muitos
benefícios espirituais, ou seja, ao praticar o jejum, como reforço da oração,
estamos nos privando de alimentos que é o nosso prazer, isso fala de renúncia.
Outras virtudes é o desenvolvimento da paciência, do equilíbrio no espírito, a
contrição, a meditação, o crescimento espiritual, a dependência de Deus mais acentuada,
etc. Tudo isso aponta para uma vida mais espiritual e santificada, com a ajuda
do Espírito Santo.
Nesse
sentido Jesus ensina seus discípulos que com uma vida mais consagrada, a oração
é mais eficaz, não pela oração ou o jejum em si, mas por que Deus se agrada de
nós ao procurarmos ter uma vida mais próxima Dele.
Portanto,
o quarto princípio é que o jejum cristão é um grande reforço da oração. Lembre-se,
o jejum, em si, não expulsa demônio, quem expulsa demônio é a autoridade do
nome de Jesus, mas uma vida mais consagrada nos aproxima de Deus e nos dá
autoridade para usar esse nome poderoso de Jesus.
Quinto
princípio que norteia o jejum cristão
O
jejum cristão não deve ser visto como algo meritório, recurso de barganha ou
troca. Deus não é obrigado a atender alguém pelo simples fato de que esse
alguém jejuou.
O
princípio maior que norteia toda a Escritura é o da Soberania de Deus. Ele faz
o que quer, da forma que quer, e quando quer, dentro do seu propósito divino.
A
exemplo disso temos o episódio em que Davi jejuou por sete dias para que seu
filho não morresse, mas seu filho morreu. Então Davi reconhecendo a soberana
vontade de Deus encerra o jejum e vai adorar a Deus (II Sm 12. 16-23). Essa
passagem está no Antigo Testamento, mas é válida ainda hoje como princípio
divino.
Tudo
que Deus faz a nosso favor é pela sua graça infinita. O jejum como antes disse
é apenas um reforço da oração e não produto de troca ou barganha com Deus.
Portanto,
o quinto princípio é que o jejum não é produto para troca ou barganha com
Deus, mas sim um aliado da oração, pois em primeiro lugar o que se deve levar
em conta é a soberana vontade de Deus.
Nossa
oração acompanhada ou não do jejum deve ser regida por uma disposição ensinada
por Cristo:
"...todavia
não se faça a minha vontade, mas a tua". Lc 22.42
Conclusão
Concluo,
dizendo que a pratica do jejum deve ser realizada nos nossos dias, norteada não
pela Lei, mas pelos princípios ensinados por Cristo, ou seja, com propósitos
espirituais, com discrição, por voluntariedade, como reforço da oração e nunca
como objeto de barganha.
Pr Pedro Pereira, Me em
Teologia