A vitória em Deus é bíblica, não
devemos deixar de pregá-la ou ensiná-la.
Porém, após o avanço da falaciosa
teologia da prosperidade, passamos a vivenciar nesses últimos dias dois tipos
de pregadores e suas mensagens de vitória, ou seja, os pregadores da vitória de
Deus e os pregadores da vitória que chamarei de vitória “barata”, pregada pelos
adeptos da falaciosa teologia da prosperidade; chamarei assim apenas para
distingui-la da verdadeira e bíblica vitória de Deus.
A vitória “barata” tem uma
mensagem a um determinado grupo de pessoas que geralmente querem a todo custo
uma benção, porém sem muito comprometimento com Deus. A benção desejada é mais
importante do que o doador (Deus); para isso são capazes de barganhar, fazer
sacrifícios, campanhas, novenas, correntes, etc., com intuito de alcançar seus
objetivos, independente da verdade bíblica, que ignoram ou desconhecem.
Já os pregadores desse tipo de
vitória são pragmáticos, ambiciosos, descompromissados com a verdade bíblica,
exibicionistas, carismáticos, etc.
Quanto ao conteúdo da mensagem sobre vitória “barata” e seu pregador, podemos
destacar as seguintes características:
- esses pregadores geralmente usam
textos, frases, ou palavras isoladas do
seu contexto;
- geralmente utilizam de sermões do tipo temático, pois esse tipo de sermão
favorece a criatividade, ou seja, lhe dá liberdade para sair do contexto e
pregar o que quiser, dependendo da astúcia ou malícia do pregador. Não quero
aqui desprezar esse tipo de sermão, pois é muito útil, estou aqui criticando o
seu mau uso;
- empregam meios “extra bíblicos”,
ou seja, colocam elementos místicos, pragmáticos, ecumênicos e sincretistas,
como por exemplo: lenço ungido, sabonete santo, rosa ungida, toalhinhas suadas
do líder maior, sal grosso, fogueira santa, símbolos religiosos, exploram
superstições populares, etc. Geralmente esses elementos são essenciais para a
vitória pregada.
- utiliza-se de termos heréticos do positivismo, ou
seja, “eu determino”, “eu não aceito”, “eu me revolto”, “eu quero”, eu... eu...
eu... eu... eu... e eu. Como se o jogo das palavras tivessem um poder mágico. A
vontade de Deus não interessa para esse tipo de pregador, mas a vontade do Eu é que conta.
- confundem Fé com Otimismo, Lembrando que o otimista se esforça para
se convencer que pode, que consegue. Já a Fé nos leva a esperar em Deus e em
sua vontade, neste caso não sou eu quem pode, mas é Deus quem pode por mim. No
Otimismo o não cumprimento do desejo é caso de desespero e frustração, mas na
Fé o não ou a aparente demora de Deus é caso de submissão espera da Sua vontade,
porém em tudo se dá glória a Deus.
- Desprezam a Doutrina da Graça e da Expiação Vicária, mesmo de forma
disfarçada ou sutil, pois quando acrescentam outros meios para a salvação,
libertação, ou cura e milagres que não seja através do sacrifício expiatório e
suficiente de Cristo na cruz, negam a sua eficácia e desprezam a Graça de Deus,
que não vem das obras ou mérito próprio de ninguém. (Ef 2.8,9; I Co 1. 20-31);
- Estipulam dia, hora e lugar para os fiéis receberem suas vitórias, ignorando a soberana vontade de Deus, pois
quando eu digo que para receber uma vitória de Deus o crente precisa fazer
parte da corrente tal, de participar da campanha de tantas semanas, ou dias,
fazer isto ou aquilo tantos dias, caso contrário a tal vitória não virá, corro
o perigo de limitar a Deus e desprezar seu favor imerecido.
Interessante que, na verdade, essas
campanhas quase sempre têm por finalidade primária encher a igreja com a
presença dos fiéis, e para isso pregam ainda que se alguém faltar a uma dessas
ditas campanhas ou sacrifícios corta-se a corrente e o tal não receberá mais a
vitória, mas terá que começar tudo de novo; chamo isso de “pragmatismo religioso”, ou seja, os fins justificam os meios, em
outras palavras, não importa se é bíblico ou não, importa que esta dando certo.
Creio que isso é forçar demais, explorar a fé e a ignorância bíblica do povo
incauto, inclusive essa prática muito se assemelha aos ensinos católicos sobre
a necessidade de sacrifícios e obras para se alcançar uma benção, como por
exemplo, promessas tipo andar de joelhos as escadas de tal igreja, ir a pé até
tal cidade ou igreja, carregar o tal santo nas costas tantos dias ou em certa
distância, carregar uma cruz por determinada distância, ou coisas desse tipo
que tanto condenamos, por serem anti bíblicas e desnecessárias. Lembrando que o
prazer do Senhor é a obediência a sua Palavra e vontade soberana, não a
sacrifícios (I Sm 15.22; Jo 15. 10,14); usar, para refutação, passagens do velho
testamento, como as muralhas de Jerico, os 7 mergulhos de Naamã, etc., é
perigoso, pois devemos lembrar o seguinte:
- primeiro, não vivemos mais na antiga dispensação, mas na
dispensação da graça (Rm 11.6; Mt 10.8);
- segundo, essas exceções foram ordenadas por DEUS, para um propósito
especifico, para pessoas específicas, num período especifico, não tendo caráter
normativo, nem doutrinário;
- terceiro, Deus não precisa de obra, esforço, ou trabalho humano
para abençoar alguém. Ele abençoa em qualquer lugar, em qualquer tempo, quando
e quem Ele quiser. Todo culto, seja Ele que dia for, a hora que for, Deus pode
e quer abençoar os que Nele esperam. Passagens como essas nos servem de exemplo e ensino somente para ilustração da prática
cristã, como por exemplo: Orar sem cessar; pedir sem desfalecer; esperar e
confiar; permanecer fiel, independente das circunstâncias, etc. (Parábola do
juiz iníquo, Lc 18; Parábola do amigo importuno Lc 11. 5-8, etc.).
O argumento que coisas como essas
estimulam a fé, são argumentos falaciosos e tendenciosos, pois o único que pode dar, acrescentar ou
aperfeiçoar a fé é Cristo e a sua Palavra (Rm 10.17; Hb 12.2).
Em suma, ao final de tudo, os ouvintes ou apreciadores desse tipo de
vitória ou mensagem, geralmente se
decepcionam e acabam se afastando da igreja. O estrago às vezes se torna tão
grande que muitos passam a sentir aversão aos evangélicos e as igrejas
evangélicas, tamanha a sua decepção; outros chegam, inclusive, a retornarem para
suas religiões antigas como espiritismo, catolicismo, budismo, etc., tomando
caminho inverso.
Deus nos livre do engano e desses
pregadores com suas mensagens de vitória “barata”.
A Vitória de Deus
Quanto à vitória de Deus, sabemos
que ela é bíblica e esta a disposição do povo de Deus.
Para melhor compreensão quero
destacar as características desta mensagem e dos seus pregadores, da seguinte
forma:
- nessa mensagem o pregador estimula o fiel a: esperar em Deus, crer ou confiar em
Deus, submeter-se a vontade soberana de Deus, permanecer firme independente das
circunstâncias, com paciência e confiança inabalável na resposta de Deus (Sl
37.5; 27.14; Rm 8.24)
- nessa mensagem o pregador prega exatamente o que o texto diz, sem
forçar uma interpretação tendenciosa, ou seja, expõe a verdade bíblica (Ap 22.
18,19; II Tm 4. 2-4);
- nessa mensagem o pregador estimula a verdadeira fé, pois a fé
verdadeira leva o fiel a um relacionamento de confiança entre Deus e o fiel,
o fiel é despertado a crer que Deus não falha, controla tudo e tem compromisso infalível
com suas promessas. Lembrando que a Fé
em Deus deve se basear numa promessa feita por Deus, ou seja, Deus cumprirá
o que Ele prometeu, e não exatamente no que eu quero que seja feito,
pois nem sempre o que eu quero é aquilo que Deus quer;
- nessa mensagem o pregador conscientiza o fiel que a benção alcançada
não vem dos seus méritos próprios, mas simplesmente da bondade e
misericórdia de Deus. Toda honra e glória deve ser atribuída somente a Deus (I
Cr 29.10-16; Sl 136; Rm 11.6; I Co 1.20)
- nessa mensagem o pregador leva o fiel a entender que Deus é soberano,
portanto ainda que a benção não tenha sido alcançada devemos permanecer firmes
e glorificando o nome de Deus. Servimos
a Deus pelo que Ele é e não por aquilo que Ele pode nos dar (II Sm 12.
16-20; Fp 4 12,13,20);
- Nessa mensagem o pregador nos leva a entender que o amor de Deus é maior
que a nossa fé ou esperança, e que se faltar fé ou a esperança, ainda nos
restará Seu amor incondicional (I Co 13.13);
- nessa mensagem o pregador leva
o fiel a entender que o Reino de Deus
está em primeiro lugar e não a nossa vontade própria (Mt 6.10);
- nessa mensagem o pregador nos
leva a entender que como servos, seguidores de cristo, não determinamos nada a Deus. Ele é o Senhor e eu sou o servo,
portanto quem determina é Deus. Os servos pedem e clamam, e Deus pela sua
bondade e misericórdia nos atende ou não (Mt 26.39; Lc 22.42; Lc 12.47; Fp
2.13; Hb 10.36);
- nessa mensagem o pregador nos
leva a compreender que não precisamos de
amuletos, fórmulas mágicas, ou sacrifícios qualquer, pois para recebermos
algo de Deus, basta pedir diretamente a Ele, pois se for da sua vontade Ele nos
dará pela sua graça e bondade (Lc 11.19; I Jo 5.14; Mt 6.6).
Concluímos, portanto que devemos
estar atentos com os enganos desses pregadores e das suas mensagens falaciosas da
teologia da prosperidade, que de forma sutil, afastam muitos da verdadeira fé.
Que Deus nos abençoe, com as infinitas
bênçãos da sua mão, mediante a sua eterna graça.
Soli Deo Glória
Pr Pedro Pereira