quinta-feira, 31 de agosto de 2017

ONDE SE PERDEMOS?

É com tristeza que observo muitas igrejas pentecostais clássicas se curvando ao pragmatismo das campanhas intermináveis do movimento neo pentecostal. 

Tenho conversado com alguns pastores maduros e de elevado conhecimento bíblico que compartilham desse mesmo sentimento. 

A pergunta é: Onde nos perdemos? O que aconteceu com nossos cultos Cristocêntricos? Bom, refletindo nisso chego a algumas conclusões:

Primeiro, a má formação ministerial e teológica da maioria dos obreiros. Por incrível que pareça ainda hoje existe uma certa resistência em alguns líderes, no tocante a formação teológica, pois não a incentivam ou no minimo a desprezam, outros até permitem extensões de escolas teológicas em suas igrejas, mas o interesse não é o conhecimento e sim o certificado para credenciar alguns ao ministério, com isso falta apoio, boa estrutura escolar, professores capacitados, etc. A maioria de obreiros são separados ao presbitério, sem nenhuma formação, tanto especifica (escola de presbítero), como teológica. Meu Deus!! Como pode alguém assumir a direção de uma igreja sem dominar no minimo as doutrinas fundamentais do cristianismo? Como pode ensinar sem conhecer minimamente regras de interpretação bíblica? 

Segundo, a maioria dos obreiros são cheios de boa intenção, homens de bom testemunho, com vida de oração, mas pela falta de conhecimento bíblico são influenciados por programas de TV pragmáticos, que exploram campanhas com resultados aparentes (encher templos e arrecadar dinheiro). Esses programas e movimentos não tem compromisso com a ortodoxia bíblica. Tem como lema: não importa se é bíblico, o que importa é que funciona para meus propósitos. É um verdadeiro vale tudo. Inventam de tudo, usam textos e passagens, na maioria das vezes, do Velho Testamento, fora do contexto, para beneficio de seus propósitos, como por exemplo: campanha dos sete mergulhos de Naamã, campanha da queda dos muros, campanha da luta contra o anjo no vau de Jaboque, etc. Infelizmente, essas campanhas pragmáticas não levam em conta a vontade soberana de Deus. Determinam dia, hora e lugar para Deus operar, conforme o desejo dos homens. A pergunta é: e se Deus não quer curar? E se Deus não quer realizar? O tempo de realizar o que pedimos ou clamamos é o tempo de Deus? E os propósitos e desígnios de Deus são levados em conta? E a oração de Jesus para o Pai fazer a vontade dele em primeiro lugar, conta? E o esperar com paciência a vontade divina, conta? Será que uma campanha pragmática curaria Jó no tempo que ele quisesse, ou Jó teve que aguardar o tempo de Deus? Cristãos autênticos esperam em Deus e se submetem a sua vontade e tempo. Por isso campanhas são estratégias humanas e são inúteis. Para nós resta apenas orarmos, clamarmos e esperamos o tempo de Deus.

Terceiro, a pressão por boas entradas de dinheiro, a pressão para o crescimento da igreja levaram alguns obreiros a abandonarem os cultos com ensino da palavra (doutrina bíblica) e as reuniões de oração, substituindo-as por campanhas pragmáticas que atendam as necessidades dos homens. Quem não quer prosperar? Quem não quer cura das enfermidades? Quem não quer porta aberta de emprego, casa própria, carro novo, etc.? Essas campanhas pragmáticas atendem essas necessidade humanas, e consequentemente mantem os templos cheios e boas entradas de dinheiro. Templos cheios, mas de almas vazias.

Quarto, a falta de entendimento sobre o real significado de culto gera essa bagunça. O que realmente é o culto? Para quem é o culto? Qual a finalidade real do culto?
Bom, a palavra “culto” deriva do Latim, cultu, e significa adoração ou homenagem a uma divindade. No caso do culto cristão essa adoração e homenagem é para Deus (Trino: Pai, Filho e Espírito Santo). 
Etimologicamente, o termo latino cultu envolve a raiz colo, colere, que indica “honrar”, “cultivar”.
Os principais termos que descrevem o ato/atitude de “culto” são o Hebraico, החָשָׁ (shachah) e o Grego, προσκυνέω (proskuneo). Essas duas palavras e seus derivados correspondem a 80% do uso cúltico bíblico. 
O primeiro vocábulo, shachah, significa “inclinar-se, prostrar-se”, como, por exemplo: “E acontecerá que desde uma lua nova até a outra, e desde um sábado até o outro, virá toda a carne a adorar [lit. “prostar”] perante mim, diz o Senhor” (Is. 66:22). 
A segunda palavra, proskuneo, indica originalmente “abaixar-se para beijar”, vindo a indicar “prostrar-se para adorar”, “reverenciar”, “homenagear”, etc. O exemplo clássico sai da boca de Jesus: “Deus é Espírito, e é necessário que os que o adoram [προσκυνοῦντας] o adorem [προσκυνεῖν] em espírito e em verdade” (Jo. 4:24).
Há ainda dois importantes termos que expressam ideias de culto. O primeiro é דבַעָ (abad), “servir”, “trabalhar”. Por exemplo, Yaweh diz a Moisés: “Certamente eu serei contigo; e isto te será por sinal de que eu te enviei: Quando houveres tirado do Egito o meu povo, servireis a Deus neste monte” (Êx 3:12). A segunda palavra é λατρεία (latreia), “servir”, como visto no diálogo de Cristo com o Diabo: “Então ordenou-lhe Jesus: Vai-te, Satanás; porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás [προσκυνήσεις], e só a ele servirás [λατρεύσεις]” (Mt 4:10). 
É interessante notar que um dos locus classicus de adoração e culto utiliza este termo para descrever a entrega do corpo a Deus como “culto racional” [λογικὴν λατρείαν] (Rm. 12:1).
O que se pode concluir deste rápido estudo etimológico? “Cultuar” envolve tanto a ‘homenagem ou reverência’ a Deus, quanto o ‘serviço’ a sua Pessoa!
Em suma, o culto é para Deus e não para as necessidades humanas. Essa compreensão faz toda a diferença. O verdadeiro culto a Deus é suficiente e atinge todos os objetivos divinos. Agora bem sabemos que Deus em sua bondade e misericórdia pode, em meio a nossa adoração e prestação de serviço a Ele, realizar curas, milagres, benefícios espirituais e até materiais, mas tudo dentro da sua soberana vontade e no seu tempo determinado por Ele, para cumprir seus propósitos.

Para terminar, não vejo Jesus, seus discípulos e os pais da igreja estimulando, ensinando ou praticando essas campanhas intermináveis (campanha de libertação, da restituição, da vitoria, da prosperidade, etc) que não passam de estratégias humanas. A igreja primitiva cresceu e se multiplicou e nunca precisou dessas campanhas pragmáticas que mais parecem com as novenas católicas, do que com algum padrão bíblico cristão. 
Com o advento dessas campanhas pragmáticas se abriu a porta para a entrada de varias heresias, como sabonete, lenço ungido, óleo de israel, areia do Jordão, fogueira santa, sal grosso, queima de pedidos de oração no monte e um monte de "besterol" como esses.

Voltemos a simplicidade do evangelho puro e simples, voltemos aos cultos cristocêntricos, onde o centro era Cristo e sua Palavra e não as necessidades humanas. 
Voltemos aos cultos com ensino da Palavra (doutrina), voltemos as reuniões de oração. Vamos cuidar melhor do preparo dos nossos obreiros, tanto espiritual como teológico. 
Não é suficiente ser bonzinho, ter boa intenção, falar desinibido para que já possa sair pregando, muito menos para assumir a direção de um trabalho qualquer ou ainda ser consagrado ao presbitério e ministério, não senhores. 
O candidato a obreiro deve estar preparado para a função que exercerá. Duas coisas devem estar claros ao candidato: sua chamada divina e seu preparo espiritual e teológico.

Chega de estratégias humanas, chega de pragmatismo, chega de codinomes inúteis aos cultos (culto do amigo, culto da vitoria, etc), o culto é para Deus e pronto.

Oremos pela nossa geração. Que Deus em Cristo nos abençoe.

Sola Scripitura
Pr Pedro Pereira

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

O que é ser santo?

Sei que o espaço é curto, mas de forma sucinta ser santo não é ser carrancudo, andar de "uniforme evangélico", ser religioso, cumprir as regras de uma denominação, ser alienado, viver uma vida cheia daqueles - não toque, não mecha, não use, etc (Cl 2.20-23)... Terminantemente não! Não é isso.

Ser santo é ser separado, não das pessoas, mas do sistema controlado e dirigido pelo diabo, é viver uma vida separada do pecado (vontade da carne - Gl 5.19-21).

O termo grego usado para a palavra SANTO é ἅγιος (hagios) e tem como seu sentido fundamental ser “separado"; veja não é ser perfeito, não é viver de aparência para agradar outros homens ou um sistema religioso, mas ser separado para uso de Deus.

A santificação ou a separação do pecado é realizado pelo Espirito Santo, de dentro para fora do homem, em resultado da regeneração e justificação divina, operada nesse homem, mediante a Graça de Deus (Rm 6.22; I Ts 5.23).

A santificação é fruto da obra da Graça salvadora de Cristo, não é resultado de obras humanas. As boas obras não torna o homem santo, mas o homem santificado pelo Espirito Santo produz obras que agradam a Deus, como: oração, amor pela palavra de Deus, obediência a palavra de Deus, fruto do Espirito (Gl 5.22), etc.

Com a palavra o Apostolo Pedro: "Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver; Porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou santo" 1 Pedro 1:15,16.

Sola Scriptura
Pr Pedro Pereira