quinta-feira, 20 de outubro de 2016

O JEJUM NO TEMPO DA GRAÇA

“E, quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram os seus rostos, para que aos homens pareça que jejuam. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão. Tu, porém, quando jejuares, unge a tua cabeça, e lava o teu rosto, Para não pareceres aos homens que jejuas, mas a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente”. Mt 6.16-18

“Então, chegaram ao pé dele os discípulos de João, dizendo: Por que jejuamos nós e os fariseus muitas vezes, e os teus discípulos não jejuam? E disse-lhes Jesus: Podem porventura andar tristes os filhos das bodas, enquanto o esposo está com eles? Dias, porém, virão em que lhes será tirado o esposo, e então jejuarão”. Mt 9 14,15

Esses dois textos e alguns outros nos trazem princípios Neotestamentário sobre o Jejum. 

Etimologicamente, jejum é a "privação ou redução de alimentos ou refeições durante o dia ou outro período de tempo por penitência". 

Já o Jejum Bíblico é uma abstinência voluntária de alimentos por um período definido e propósito específico. Ele pode ser total ou parcial. 

O Jejum ritualístico era aquele praticado pelo povo judeu com caráter obrigatório e mecânico, como por exemplo, no dia da expiação onde todo o povo jejuava por força da Lei. Jesus condenou esse tipo de jejum sem propósito definido e obrigatório que era de forma genérica praticado pelo povo judeu no antigo Testamento.

Jesus, porém ensina seus discípulos, como súditos do Reino de Deus, os princípios que norteiam o Jejum Cristão, vejamos:

Primeiro princípio que norteia o jejum cristão

“Então, chegaram ao pé dele os discípulos de João, dizendo: Por que jejuamos nós e os fariseus muitas vezes, e os teus discípulos não jejuam? E disse-lhes Jesus: Podem porventura andar tristes os filhos das bodas, enquanto o esposo está com eles? Dias, porém, virão em que lhes será tirado o esposo, e então jejuarão”. Mt 9.14,15

Neste texto Jesus é indagado do porque que seus discípulos não jejuavam, pois alegavam que os fariseus e os discípulos de João Batista jejuavam. Jesus então os ensina: “... Podem porventura andar tristes os filhos das bodas, enquanto o esposo está com eles?”. Jesus era o esposo, Jesus estava com eles, portanto era momento de alegria e não de tristeza. Jejum remete dias de luto, tristeza, contrição, etc. Jesus é o pão que desce do céu, é o salvador, o ajudador, a comunhão entre ele e seus discípulos era estreita, logo Jejuar não tinha lógica. E prossegue dizendo: “... Dias, porém, virão em que lhes será tirado o esposo, e então jejuarão”. 

Aqui está o primeiro principio que norteia o Jejum. O Jejum é uma causa de exceção, deve ser praticado em dias de necessidade. Necessidade de mais comunhão, em dias difíceis, em dias de muitas provações, com a intenção chamar a atenção de Deus em nosso favor. Jesus havia alertado seus discípulos que depois da sua partida eles seriam perseguidos e viveriam dias de muitas aflições (Mt 24.9; 10.18,22; Jo 16.33). 

Segundo princípio que norteia o jejum cristão

“E, quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram os seus rostos, para que aos homens pareça que jejuam. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão...” Mt 6.16

Neste texto Jesus orienta que o Jejum deve ser praticado com naturalidade, não deve ser praticado com intuito de ser visto pelos homens. Os Fariseus costumavam jejuar publicamente e para serem vistos pelos homens se descabelavam, ficavam caídos nas calçadas, tinham expressão de sofrimento em seus rostos. Com isso chamavam a atenção das pessoas, que passavam a comentarem o quanto eles eram “santos” e “espirituais”; e isso massageava o ego dos fariseus, dando-lhes um status de homens santos e espirituais. Jesus, porém, disse: “Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão”. Agindo assim não receberiam nada de Deus, pois seus propósitos eram apenas serem aclamados pelos homens. 

O jejum deve ser praticado com discrição e a intenção deve ser espiritual, veja:

“... Tu, porém, quando jejuares, unge a tua cabeça, e lava o teu rosto, Para não pareceres aos homens que jejuas, mas a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente”. Mt 6.17,18

Portanto, o segundo princípio que norteia o jejum cristão é que o jejum deve ser praticado com discrição, em secreto, e com propósitos espirituais e não por aparência, e não para se mostrar mais santo do que outros.

Terceiro princípio que norteia o jejum bíblico

“E, quando jejuardes...”; “... Tu, porém, quando jejuares...”.

Veja que a expressão “quando” denota que nós os cristãos precisaremos em algum momento na nossa vida jejuar, mas não por imposição da Lei e sim por voluntariedade. O Jejum não pode ser ritualístico, de forma mecânica, mas por consciência voluntaria, sabendo que chegou o momento em que preciso jejuar, com um propósito especifico e espiritual.

O terceiro princípio, portanto nos mostra que o jejum cristão “quando” praticado deve ser de forma voluntária e não por imposição legal, como algo obrigatório ou ritualístico.

Paulo, orientando sobre o casamento, nos mostra a necessidade do jejum ser voluntario e consensual entre o casal, ou seja, se um dos cônjuges quiser se privar por um período de tempo, de relações sexuais, por motivo de estar jejuando, isso deve ser feito com a aprovação mútua:

Não vos priveis um ao outro, senão por consentimento mútuo por algum tempo, para vos aplicardes ao jejum e à oração; e depois ajuntai-vos outra vez, para que Satanás não vos tente pela vossa incontinência”. I Co 7.5

Isso só reforça a ideia de que o jejum é um ato voluntário e não ritualístico obrigatório ou legalista.

Quarto princípio que norteia o jejum cristão

“Mas esta casta de demônios não se expulsa senão pela oração e pelo jejum”. Mt 17.21

Jesus orienta seus discípulos que o jejum é um grande reforço para a oração. Existem situações que a oração deve ser acompanhada pelo jejum, como reforço. 

Não devemos entender aqui que o jejum é uma poção mágica, um ritual poderoso para expulsar demônios. A regra básica e neotestamentária para se expulsar demônios é a oração, com a autoridade do nome de Jesus (Mc 16.17). Porém, naquele dia os discípulos oraram e o demônio não fora expulso, mas ao chegar Jesus o pai do menino reclama que seus discípulos haviam falhado, Jesus então expulsa aquele demônio, agora envergonhados seus discípulos o interrogam do motivo de não terem conseguido expulsar aquele demônio, foi então que Jesus os orienta que há castas de demônios que exigem de nós oração com reforço, ou seja, com jejum.

Para entendermos melhor sobre isso precisamos compreender que o jejum, traz muitos benefícios espirituais, ou seja, ao praticar o jejum, como reforço da oração, estamos nos privando de alimentos que é o nosso prazer, isso fala de renúncia. Outras virtudes é o desenvolvimento da paciência, do equilíbrio no espírito, a contrição, a meditação, o crescimento espiritual, a dependência de Deus mais acentuada, etc. Tudo isso aponta para uma vida mais espiritual e santificada, com a ajuda do Espírito Santo. 

Nesse sentido Jesus ensina seus discípulos que com uma vida mais consagrada, a oração é mais eficaz, não pela oração ou o jejum em si, mas por que Deus se agrada de nós ao procurarmos ter uma vida mais próxima Dele.

Portanto, o quarto princípio é que o jejum cristão é um grande reforço da oração. Lembre-se, o jejum, em si, não expulsa demônio, quem expulsa demônio é a autoridade do nome de Jesus, mas uma vida mais consagrada nos aproxima de Deus e nos dá autoridade para usar esse nome poderoso de Jesus. 

Quinto princípio que norteia o jejum cristão

O jejum cristão não deve ser visto como algo meritório, recurso de barganha ou troca. Deus não é obrigado a atender alguém pelo simples fato de que esse alguém jejuou.

O princípio maior que norteia toda a Escritura é o da Soberania de Deus. Ele faz o que quer, da forma que quer, e quando quer, dentro do seu propósito divino. 

A exemplo disso temos o episódio em que Davi jejuou por sete dias para que seu filho não morresse, mas seu filho morreu. Então Davi reconhecendo a soberana vontade de Deus encerra o jejum e vai adorar a Deus (II Sm 12. 16-23). Essa passagem está no Antigo Testamento, mas é válida ainda hoje como principio divino.

Tudo que Deus faz a nosso favor é pela sua graça infinita. O jejum como antes disse é apenas um reforço da oração e não produto de troca ou barganha com Deus.

Portanto, o quinto princípio é que o jejum não é produto para troca ou barganha com Deus, mas sim um aliado da oração, pois em primeiro lugar o que se deve levar em conta é a soberana vontade de Deus.

Nossa oração acompanhada ou não do jejum deve ser regida por uma disposição ensinada por Cristo: "... todavia não se faça a minha vontade, mas a tua". Lc 22.42

Concluo, dizendo que a pratica do jejum deve ser realizada nos nossos dias, norteada não pela Lei, mas pelos princípios ensinados por Cristo, ou seja, com propósitos espirituais, com discrição, por voluntariedade, como reforço da oração e nunca como objeto de barganha. É isso.


Pr Pedro Pereira