Por Charles Edward White
John Wesley pregou muitas vezes sobre o uso do
dinheiro. Possuindo provavelmente o maior salário já recebido na Inglaterra,
ele teve oportunidades de colocar suas idéias em prática. O que ele disse a
respeito do dinheiro? E o que fez com o próprio dinheiro?
John Wesley experimentou uma pobreza opressiva
quando criança. Seu pai, Samuel Wesley, era pastor anglicano numa das paróquias
que pagavam os menores salários do país. Ele tinha nove filhos para sustentar e
raramente ficava sem dívidas. Uma vez John viu seu pai sendo levado para a
prisão dos devedores. Portanto, quando seguiu seu pai no ministério, não tinha
ilusão alguma acerca das recompensas financeiras.
É provável que tenha sido uma surpresa para John
Wesley que, embora Deus o houvesse chamado para mesma vocação de seu pai, não o
havia chamado para ser tão pobre quanto ele. Em vez de ser pastor numa
paróquia, John sentiu a direção de Deus para ensinar na Universidade de Oxford.
Lá, ele foi escolhido para ser membro do conselho do Lincoln College. Sua
posição lhe garantia pelo menos trinta libras por ano, mais do que o suficiente
para um rapaz solteiro viver. John parecia desfrutar de sua relativa
prosperidade. Gastou seu dinheiro em jogos de cartas, tabaco e conhaque.
Enquanto estava em Oxford, um incidente
transformou sua perspectiva acerca do dinheiro. Ele havia acabado de comprar
alguns quadros para colocar em seu quarto, quando uma das camareiras chegou à
sua porta. Era um dia frio de inverno, e ele notou que ela não tinha nada para
se proteger, exceto uma capa de linho. Ele enfiou a mão no bolso para dar-lhe
algum dinheiro para comprar um casaco, mas percebeu que havia sobrado bem
pouco. Imediatamente, ficou perplexo com o pensamento de que Deus não havia se
agradado pela forma como havia gasto seu dinheiro. Ele perguntou a si mesmo: O
mestre me dirá “Muito bem servo bom e fiel”? Tu adornaste as paredes com o
dinheiro que poderia ter protegido essa pobre criatura do frio! Ó justiça! Ó
misericórdia! Esses quadros não são o sangue dessa pobre empregada?
O que Wesley fez?
Talvez, como resultado desse incidente, em 1731,
Wesley começou a limitar seus gastos para que pudesse ter mais dinheiro para
dar aos pobres. Ele registrou que, em determinado ano, sua renda fora de 30 libras , suas despesas,
28, assim, tivera duas libras para dar. No ano seguinte, sua renda dobrou, mas
ele continuou administrando seus gastos para viver com 28, desse modo,
restaram-lhe 32 libras
para dar aos pobres. No terceiro ano, sua renda saltou para 90 libras . Em vez de
deixar suas despesas crescerem juntamente com sua renda, ele as manteve em 28 e
doou 62 libras .
No quarto ano, recebeu 120
libras . Do mesmo modo que antes, suas despesas se
mantiveram em 28 libras
e, assim, suas doações subiram para 92.
Wesley sentia que o crente não deveria
simplesmente dar o dízimo, mas dar toda sua renda excedente, uma vez que já
tivesse suprido a família e os credores. Ele cria que com o crescimento da
renda, o que deveria aumentar não era o
padrão de vida, mas sim o padrão de doações.
Essa prática começou em Oxford e continuou por
toda a sua vida. Mesmo quando sua renda ultrapassou mil libras esterlinas, ele
viveu de modo simples, doando rapidamente seu dinheiro excedente. Houve um ano
em que seu salário superou 1400
libras . Ele viveu com 30 e doou aproximadamente 1400.
Por não ter uma família para cuidar, não precisava poupar. Ele tinha medo de
acumular tesouros na terra, portanto, seu dinheiro ia para as obras de caridade
assim que chegava às suas mãos. Ele registrou que nunca permaneceu com 100 libras .
Wesley limitava suas despesas, não adquirindo
coisas que eram tidas como essenciais para um homem de sua posição. Em 1776, os
fiscais de impostos inspecionaram suas restituições e lhe escreveram a seguinte
sentença: “Não temos dúvidas de que o senhor possui algumas baixelas de prata
para cada item que o senhor não declarou até agora”. Eles queriam dizer que um
homem proeminente como ele, certamente possuía alguns pratos de prata em sua
casa, e o acusavam de sonegação. Wesley lhes respondeu: “Tenho duas colheres de
prata em Londres e duas em Bristol. Essa é toda a prata que possuo no momento e
não comprarei mais prata alguma, visto que muitos ao meu redor almejam por
pão”.
A outra forma pela qual Wesley limitava seus
gastos era identificando-se com os pobres. Ele pregava que os crentes deveriam
se considerar como membros dos pobres, a quem Deus havia dado dinheiro para
ajudá-los. Portanto, ele vivia e comia com os pobres. Sob a liderança de
Wesley, a igreja Metodista de Londres estabeleceu dois abrigos para viúvas na
cidade. Elas eram sustentadas pelas ofertas recolhidas nos encontros e nas
celebrações da Ceia do Senhor. Em 1748, nove viúvas, uma mulher cega e duas
crianças viviam ali. Juntamente com elas, vivia John Wesley e outro pregador
metodista que se encontrava na cidade naquela ocasião. Wesley se alegrava em
comer da mesma comida que elas, à mesma mesa, antevendo o banquete celestial
que todos os crentes compartilharão.
Durante quatro anos, a dieta de Wesley consistia
principalmente em batatas, em partes para melhorar sua saúde, mas também para
economizar dinheiro. Ele dizia: “Aquilo que eu guardo para comprar carne pode
alimentar alguém que não possui comida alguma”. Em 1744, Wesley escreveu:
“Quando eu morrer, se eu deixar dez libras para trás... você e toda a
humanidade poderão testemunhar contra mim, dizendo que tenho vivido e morrido
como um ladrão e salteador”. Quando ele morreu em 1791, o único dinheiro que
estava em sua posse eram algumas moedas, encontradas em seus bolsos e em sua
gaveta de roupas.
O que havia acontecido ao restante do dinheiro
que ele ganhara em toda a sua vida, uma quantia estimada em trinta mil libras? Ele o havia doado. Como
Wesley havia dito: “Não poderei evitar deixar meus livros para trás quando Deus
me chamar, porém minhas próprias mãos executarão a doação de todas as demais
coisas”.
O que Wesley Pregou?
O ensino de Wesley sobre o dinheiro oferece
diretrizes simples e práticas para qualquer cristão.
A primeira regra de Wesley acerca do dinheiro
era “Ganhe o máximo que puder”. Apesar de seu potencial para o mau uso, o
dinheiro em si é algo bom. O bem que ele pode fazer é infinito: “Nas mãos dos
filhos de Deus, ele é comida para os famintos, água para os sedentos, roupas
para os que estão descobertos. Ele dá ao viajante e ao estrangeiro um lugar
onde pousar a cabeça. Por meio dele, podemos manter a viúva, no lugar de seu
marido, e aos órfãos, no lugar de seu pai. Podemos ser uma defesa para os
oprimidos, levar saúde aos doentes e alívio aos que têm dor. Ele pode ser como
olhos para o cego, como pés para o coxo e como o socorro para livrar alguém dos
portões da morte”!
Wesley acrescenta que ao ganhar o máximo que
podem, os crentes devem ser cuidadosos para não prejudicar sua própria alma,
mente e corpo ou a alma, mente e corpo de quem quer seja. Desse modo, ele
proibiu o ganho de dinheiro em empresas que poluem o meio ambiente ou causam
danos aos trabalhadores.
A segunda regra de Wesley para o uso correto do
dinheiro era “Poupe o máximo que puder”. Ele insistiu para que seus ouvintes
não gastassem dinheiro somente para satisfazer a concupiscência da carne, a
concupiscência dos olhos e a soberba da vida. Ele clamava contra comidas caras,
roupas luxuosas e móveis elegantes. “Cortem todas essas despesas! Desprezem as
iguarias e a variedade, e estejam contentes com o que a simples natureza
requer”.
Wesley tinha duas razões para dizer aos crentes
para comprarem somente o necessário.
Uma era óbvia: para que não desperdiçassem
dinheiro.
A segunda era para que seus desejos não aumentassem.
O antigo
pregador destacou sabiamente que, quando as pessoas gastam dinheiro em coisas
que, de fato, não precisam, elas começam a desejar mais coisas das quais não
precisam. Em vez de satisfazerem aos seus desejos, elas apenas os fazem
aumentar: “Quem dependeria de qualquer coisa para satisfazer esses desejos, se
considerasse que satisfazê-los é o mesmo que fazê-los crescer? Nada é mais verdadeiro
do que isto: A experiência diária demonstra que quanto mais os satisfazemos,
mais eles aumentam”.
Wesley advertiu principalmente sobre a questão
de comprarmos muitas coisas para os filhos. Pessoas que raramente gastam
dinheiro consigo mesmas podem ser bem mais indulgentes com seus filhos. Ao
ensinar o princípio de que gratificar um desejo desnecessariamente tende a
intensificá-lo, ele perguntou a esses pais bem-intencionados: “Por que você
compraria para eles mais orgulho ou cobiça, mais vaidade, tolice e desejos
prejudiciais? ...Por que você teria um gasto extra apenas para trazer-lhes mais
tentações e ciladas, e para transpassá-los com mais tristezas”.
A terceira regra de John Wesley era “Doe o
máximo que puder”. A oferta de uma pessoa deve começar com o dízimo. Ele disse
àqueles que não dizimavam: “Não há dúvidas de que vocês têm colocado o seu
coração no seu ouro”. E advertia: “Isso ‘consumirá sua carne como o fogo’”!
Entretanto, a oferta de uma pessoa não deve se limitar ao dízimo. Todo o dinheiro
dos crentes pertence a Deus, não apenas a décima parte. Os crentes devem usar
100% de sua renda da forma como Deus direcionar.
E como Deus direciona os crentes a usarem sua
renda?
Wesley listou quatro prioridades bíblicas:
1. Providencie o que é necessário para você e
sua família (1 Tm 5.8).
O crente deve estar certo de que sua família possui
suas necessidades e comodidades supridas, ou seja, “quantidade suficiente de
uma comida modesta e saudável para comer, e roupas adequadas para vestir”. O
crente também deve garantir que a família tenha o suficiente para viver caso
haja imprevistos em relação ao seu ganha-pão.
2. “Tendo sustento e com que nos vestir,
estejamos contentes” (1 Tm 6.8).
Wesley acrescentou que a palavra traduzida
para “vestir” é literalmente “cobrir”, o que inclui tanto moradia como roupas.
“Conclui-se claramente que tudo o que tivermos além dessas coisas, no sentido
empregado pelos apóstolos, é riqueza – tudo quanto estiver além das
necessidades, ou no máximo, além das comodidades da vida. Qualquer um que tenha
comida suficiente para comer, roupas para vestir, um lugar onde repousar a
cabeça, e mais alguma outra coisa, é rico”.
3. Providencie o necessário para “fazer o bem
perante todos os homens” (Rm 12.17) e não fique devendo nada a ninguém (Rm
13.8).
Wesley disse que a reivindicação pelo dinheiro do crente que se seguia à
família era a reivindicação dos credores. Ele acrescentou que aqueles que
dirigiam o próprio negócio deveriam ter ferramentas adequadas, estoque ou o
capital necessário para manter seu negócio.
4. “Por isso, enquanto tivermos oportunidade,
façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé” (Gl 6.10).
Após
o crente ter provido o necessário para a família, credores e para o próprio
negócio, sua próxima obrigação é utilizar todo o dinheiro que sobrou para
suprir as necessidades dos outros.
Ao dar esses quatro princípios bíblicos, Wesley
reconheceu que algumas situações não são assim tão claras. A forma como os
crentes devem usar o dinheiro de Deus nem sempre é óbvia.
Por essa razão, ele
ofereceu quatro perguntas para ajudar seus ouvintes a decidirem como gastar seu
dinheiro:
1. Ao gastar o dinheiro, estou agindo como se o
possuísse ou como se fosse o curador de Deus?
2. O que as Escrituras exigem de mim ao gastar o
dinheiro dessa maneira?
3. Posso oferecer essa compra como um sacrifício
a Deus?
4. Deus me recompensará por esse gasto na
ressurreição dos justos?
Finalmente, para um crente que ainda estivesse
perplexo, John Wesley sugeriu a seguinte oração antes de realizar uma compra:
“Senhor, tu vês que estou para gastar esta
quantia naquela comida, naquela roupa ou naquele móvel. Tu sabes que estou
agindo com sinceridade nessa questão; como um mordomo de teus bens; gastando
uma porção dele desta maneira, em conformidade com o desígnio que tu tens ao
confiá-los a mim. Sabes que faço isso em obediência à tua Palavra, conforme tu
ordenas e porque tu o ordenas. Peço-te que isso seja um sacrifício santo e
aceitável a Ti, por meio de Jesus Cristo! Dá-me testemunho em mim mesmo de que,
por meio desse esforço de amor, serei recompensado quando Tu recompensares a
cada homem segundo as suas obras”.
Ele estava confiante que qualquer crente de
consciência limpa que fizesse essa oração usaria o seu dinheiro com sabedoria.