Entendo que não. Segue
abaixo, de forma bastante objetiva as devidas razões:
1. O livro do profeta
Malaquias foi escrito especificamente para o povo de Israel.
Sua mensagem profética tem a sua razão e o seu lugar próprio no
tempo, e no espaço
"Sentença pronunciada pelo Senhor contra Israel, por
intermédio de Malaquias." (Ml 1.1)
"Assentar-se-á como derretedor e purificador de prata;
purificará os filhos de Levi e os refinará como ouro e como prata; eles trarão
ao Senhor justas ofertas. Então, a oferta de Judá e de Jerusalém será agradável
ao SENHOR, como nos dias antigos e como nos primeiros anos." (Ml 3.3)
"Porque eu, o SENHOR, não mudo; por isso, vós, ó filhos de
Jacó, não sois consumidos." (Ml 3.6)
Afirmar que as profecias e as orientações específicas de Malaquias
se aplicam "literalmente" à Igreja, é uma atitude que implica na
quebra de princípios básicos, sérios e confiáveis que norteiam uma
interpretação gramático-histórica da Bíblia;
"[...] os princípios do sistema gramático-histórico de
interpretação, que surgiram em antioquia pela primeira vez como princípios
pensados e conscientes, representam o modelo de interpretação que mais bem
corresponde aos pressupostos do Cristianismo histórico quanto à natureza das
Escrituras" (Nicodemus, 2004, p. 256)
Bentho (2003, p. 69-71) diz que a função da hermenêutica e exegese
bíblica, dentre outras, é compreender o sentido do texto dentro de seu ambiente
histórico-cultural e léxico-sintático. Qualquer interpretação que tenta forçar
o texto a dizer o que não diz, seja de forma voluntária ou involuntária, com
base em pressupostos ou premissas previamente estabelecidos pelo intérprete,
que ignora o contexto sob pretexto ideológico, que ignora a mensagem e o
propósito principal do livro e que não analisa o texto à luz de outros, não
deve ser confiável.
"Lembrai-vos da Lei de Moisés, meu servo, a qual lhe
prescrevi em Horebe para todo o Israel, a saber, Estatutos e juízos." (Ml
4.4)
Não vivemos sob a Lei de Moisés:
"Porque eu, mediante a própria lei, morri para a lei, a fim
de viver para Deus. Estou crucificado com Cristo". (Gl 2.19)
"Ora, a lei não procede de fé, mas: Aquele que observar seus
preceitos por eles viverá" (Gl 3.12)
"Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei,
pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão" (Gl 5.1)
3. Os que se utilizam de Ml
3.10, acabam por incorrer na “alegorese”, ou seja, no abuso de uma
interpretação fundamentada na escola alegórica.
"Quem alegoriza fala ou escreve sobre alguma coisa por
intermédio de outra, procurando desvendar sentidos simbólicos, espirituais ou
ocultos. [...] De acordo com o método alegórico, o sentido literal e histórico
das Escrituras é completamente desprezado, e cada palavra e acontecimento são
transformados em alegoria de algum tipo, a fim de escapar de dificuldades
teológicas ou para sustentar certas crenças estranhas e alheias ao texto
bíblico. Assim, não interpreta o texto bíblico, mas perverte o verdadeiro
sentido deles, embora sob o pretexto de buscar um sentido mais profundo ou mais
espiritual" (Idem, 2003, p. 124)
O uso claro de alegorese em Ml 3.10, é afirmar que a "casa do
tesouro" e a "minha casa", citadas no texto se aplicam aos
templos cristãos. É equivocado também declarar, que as maldições ali citadas,
virão também sobre os crentes. Vale lembrar as palavras de Paulo em Atos 17.24
"O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do céu
e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas."
Muitos se utilizam do texto de Ml 3.7-11, tirando-o do seu
contexto, para colocar a "faca no pescoço dos simples",
amedrontando-os com maldições ou acusando-os de ladrões, no que diz respeito a
prática do dízimo. Volto a declarar que a Bíblia não deve ser interpretada
segundo as nossas conveniências.
Compreendo ainda pela Palavra, que na Igreja, o dízimo não deve
ter a sua prática incentivada a partir de Malaquias, mas sim, a partir de
Abraão (Gn 14.18-20) e Jacó (28.18-22) que contribuíram voluntariamente, livres
de qualquer preceito legal, sem medo de qualquer punição ou castigo, sendo
unicamente movidos por pura adoração em reconhecimento àquele que provê todas
as coisas.
As bases motivadoras e punitivas que norteiam as contribuições
financeiras na Igreja, estão prescritas em 2 Co 9.6-15
"E isto afirmo: aquele que semeia pouco pouco também ceifará;
e o que semeia com fartura com abundância também ceifará. Cada um contribua
segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque
Deus ama a quem dá com alegria. Deus pode fazer-vos abundar em toda graça, a fim
de que, tendo sempre, em tudo, ampla suficiência, superabundeis em toda boa
obra, como está escrito: Distribuiu, deu aos pobres, a sua justiça permanece
para sempre. Ora, aquele que dá semente ao que semeia e pão para alimento
também suprirá e aumentará a vossa sementeira e multiplicará os frutos da vossa
justiça, enriquecendo-vos, em tudo, para toda generosidade, a qual faz que, por
nosso intermédio, sejam tributadas graças a Deus. Porque o serviço desta
assistência não só supre a necessidade dos santos, mas também redunda em muitas
graças a Deus, visto como, na prova desta ministração, glorificam a Deus pela
obediência da vossa confissão quanto ao evangelho de Cristo e pela liberalidade
com que contribuís para eles e para todos, enquanto oram eles a vosso favor,
com grande afeto, em virtude da superabundante graça de Deus que há em vós.
Graças a Deus pelo seu dom inefável!"
Dizimar e contribuir com outras ofertas, não pode ser encarado por
cristãos como um fardo ou jugo da lei. Deve sim, ser percebido como um
privilégio e como um ato livre e amoroso que reconhece em Deus o sustentador,
provedor e criador de todas as coisas.
* extraído do blog do Pr Altair Germano
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