sexta-feira, 11 de maio de 2018

Transferência de unção? O que é isso?

Após assistir um pregador famoso, num congresso famoso pentecostal, usando um lençol por cima de pregadores novos e alegando estar fazendo uma transferência de unção daquele pregador para eles, fiquei perplexo. Onde erramos? Quando nos desviamos do evangelho simples e genuíno? 

Jesus nunca ensinou isso, nunca li em Atos, onde conta a história da igreja do primeiro século, os apóstolos ensinando ou fazendo tal absurdo. 



Orar impondo as mãos para cura das enfermidades, para expulsar demônios, para receber o dom do Espírito Santo, nada tem a ver com essa tal "transferência de unção", pois são coisas distintas. Na primeira situação fica nítido que quem opera é o Espírito de Deus, através da graça e em nome de Cristo; já nessa segunda situação, percebemos uma transferência do que está no tal ungido, como se a fonte do poder fosse do ungido e não de Deus, como se o controle disso estivesse nele, dando a quem ele quer, quando o tal ungido quiser, sem dizer que, a centralidade de Deus se perde e dá lugar ao homem, como o centro desse poder (Is 42.8).

Citar passagens do V.T. também não corrobora em nada, pois uma analise sincera dos textos revelam que essa doutrina é fruto de uma má interpretação.

No exemplo de Nm 11, que fala da passagem de Moises e os setenta anciãos, é preciso atentar para alguns detalhes, pois uma leitura superficial nos leva a uma interpretação errônea, veja esse texto “Então o Senhor desceu na nuvem, e lhe falou; e, tirando do espírito, que estava sobre ele, o pôs sobre aqueles setenta anciãos; e aconteceu que, quando o espírito repousou sobre eles, profetizaram; mas depois nunca mais” (Num 11.25).

Na passagem em apreço o escritor usa uma figura de linguagem para dizer em outras palavras que Deus deu o mesmo Espírito Santo que estava operando em Moises para os Setenta, a fim de exercerem a mesma obra de Moises, pois sabemos que quem opera é Deus e não Moises, se continuarmos lendo o texto perceberemos que os anciãos profetizaram, pois foram cheios do Espírito Santo e não do espírito de Moisés.

É bom deixar claro que essa decisão partiu de Deus e não de Moises (Nm 11.17)

Fica tudo mais claro quando lemos o versículo 29, veja: “Porém, Moisés lhe disse: Tens tu ciúmes por mim? Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta, e que o Senhor pusesse o seu espírito sobre ele!” (V29). Entenderam? O Espírito era de Deus, Deus é quem dá a quem quer e quando quer para um propósito especifico (I Co 12.7,11). 

Já na passagem de II Rs 2, que fala sobre Elias e Eliseu, Eliseu pede, para Elias, a poção dobrada do Espírito do teu espirito, e o próprio Elias diz a ele que o que ele pediu era muito difícil, haja vista Elias saber que não era dele o poder, mas do Espírito de Deus. Elias então profetiza a Eliseu dizendo que se ele o visse sendo tomado ao céu isso se cumpriria, entendendo que Eliseu queria ter o Espirito de Deus e fazer dobrado o que Elias fez.

Eliseu, então foi perseverante e acompanhou Elias em tudo, quando de repente ele foi levado ao céu na presença de Eliseu, por isso a profecia se cumpriu e Eliseu foi dobradamente cheio do Espírito de Deus. Isso nada tem a ver com “transferência de unção”. É bom ressaltar que a escolha de Eliseu, para substituir Elias partiu de Deus e não de Elias.

Uma das regras da hermenêutica bíblica (a arte ou ciência de interpretar textos bíblicos) é que quando o texto em foco está obscuro é necessário recorrer ao contexto e aos textos paralelos. Uma doutrina bíblica tem de estar em acordo com toda a Escritura, pois a Escritura explica a própria Escritura.

Entendo isso, observe atentamente a primeira carta de João, no capitulo 2, onde o apóstolo nos esclarece o seguinte: “Mas vocês têm uma unção que procede do Santo, e todos vocês têm conhecimento” (1 João 2:20 - NVI). Entenderam? A unção vem de Deus e não do homem. (grifo nosso).

E para ficar mais claro, veja o verso 27: “Quanto a vocês, a unção que receberam dele permanece em vocês, e não precisam que alguém os ensine; mas, como a unção dele recebida, que é verdadeira e não falsa, os ensina acerca de todas as coisas, permaneçam nele como ele os ensinou” (1 João 2:27 - NVI). Atentaram a expressão? Veja: “...a unção que receberam dele permanece em vocês...”. Logo, a unção é de Deus, é Ele quem nos dá, e mais PERMANECE em nós. 

Portanto, não existe a tal de “transferência de unção”, biblicamente falando, como os falsos pregadores estão ensinando, pois a Unção é de Deus, Ele dá a quem quer, para um propósito Dele, e é intransferível. 

Lembre-se, quando Deus quiser dar a sua unção a alguém, Ele o faz diretamente. É isso.

Voltemos ao Evangelho simples e genuíno.

Sola Scriptura 
Pr Pedro Pereira

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