quarta-feira, 4 de maio de 2016

O VOTO DEVE SER PRATICADO NO TEMPO DA GRAÇA?

Voto é bíblico? 
Deve ser praticado no tempo da graça? 
Qual a diferença do voto e da barganha com Deus? 


Para falarmos sobre esse assunto antes precisamos entender a doutrina da graça, entendimento essencial, para a compreensão do assunto, vejamos:


A Doutrina da Graça

Em síntese, Graça vem do latim “Gratus”, e da palavra grega “Charis”, que significa, favor, generosidade. 

Isso fala que por iniciativa Divina, o homem é salvo e favorecido, mesmo sem merecimento algum. Ora, uma vez que o homem está inteiramente caído em seus pecados e delitos (Ef 2.1-5), não há nele (homem) qualquer merecimento que o qualifique em receber de Deus qualquer favor. Portanto, a Graça é a expressão majestosa do amor de Deus (Rm 5.12-21).

Em resumo, nada que o homem faça será suficiente para que seja merecedor de algo, nem da salvação, nem outro benefício qualquer, por isso o homem é totalmente dependente do amor e graça de Deus (Ef 2.8,9)

Tudo que somos ou que temos foi fruto da graça de Deus, isso quer dizer que quando Deus nos abençoa, não leva em conta nosso merecimento.

Dito isso, podemos agora falar sobre voto. Vejamos:

A palavra voto vem do verbo hebraico “nadar” e do substantivo “nader” que significa prometer voluntariamente, fazer ou dar alguma coisa. Em outras palavras, é uma promessa assumida voluntariamente diante de Deus, ou feita para Deus.

Dentre algumas observações, é preciso levar em conta alguns princípios bíblicos acerca do voto, no Velho Testamento (Dt 23.18,21-23; Ec 5.4,5): Primeiro, o voto não podia ser obrigatório; segundo, não podia depender de terceiros; terceiro, não podia ser precipitado (Jz 11.30,35,36,39); quarto, não podia deixar de ser cumprido; e quinto, não podia ser abominável.

Já no Novo Testamento não há nenhuma recomendação, nem ordenamento para o voto. Devemos ressaltar que o apostolo Paulo se submete ao rito de um voto, juntamente com outros judeus (At 18.18; 21.23-27). Mas, possivelmente, de forma estratégica, ele ouve o conselho de vários anciãos judaicos que o aconselharam a se submeter ao rito do voto, para que os judeus que o acusaram de ser uma pessoa que batia de frente com a lei de Moisés e que dizia aos judeus para abandonarem essas tradições judaicas, parassem com as acusações e vissem que Paulo não estava contra eles, embora estivesse levando o Evangelho a todos. Com isso Paulo fez uma concessão à circunstância, sendo essa ocasião um provável exemplo do que ele dizia: “Tornei-me judeu para os judeus, a fim de ganhar os judeus. Para os que estão debaixo da lei, tornei-me como se estivesse sujeito à lei, embora eu mesmo não esteja debaixo da lei, a fim de ganhar os que estão debaixo da lei” (I Coríntios 9.20).

Agora, sabemos que o voto foi sempre uma prática nas igrejas Assembleia de Deus, porém, mais por tradição do que por ordenamento neo testamentário. 

Portanto, como não há ordenamento, mas também não há prescrição proibitiva direta, dai podemos encontrar lugares incentivando essa prática, mas é preciso um certo cuidado para que essa prática não se confunda com a famigerada “barganha” com Deus encontrada nos ensinamentos da Teologia da Prosperidade.

Basicamente, “Barganha”, vem do latim “bargagnare” que significa troca, negócio, vender com fraude, ou em outras palavras o famoso “toma-lá-dá-cá”. Logo, esse ensinamento proposto pelos adeptos da teologia da prosperidade é um instrumento falso que alega o "direito legal" e a pratica do "determinismo". Na pratica da barganha os adeptos se tornam materialistas e acabam "servindo" a Deus por interesse próprio e sem compromisso com a espiritualidade.

No principio da barganha, eu recebo porque "eu" fiz o tal "sacrifício", "eu" cumpri ou realizei a tal "corrente ou campanha", isso significa que se "eu" dei, logo "eu" vou receber. Ora, isso chama-se "mérito próprio", que tem por base as obras que eu pratiquei, o famigerado toma-lá-dá-cá. Essa prática e ensino fere a doutrina da graça de Deus, portanto deve ser rechaçada.

A diferença crucial do voto e da barganha é que na barganha sempre o objetivo é a vantagem pessoal, mas no caso do voto o objetivo, a intenção é em agradar a Deus, reconhecer sua bondade e misericórdia, em outras palavras, seu objetivo sempre é espiritual.

Dito isso, não vejo problemas, na nova aliança, se algum crente, com propósitos espirituais em agradecer a Deus, por uma benção recebida, pela graça de Deus, desejar voluntariamente fazer um voto a Deus. Porém, vale ressaltar que o voto não é algo necessário ou primordial na vida do crente. Mas, se for feito deve se levar em consideração que o benefício, a benção que recebemos foi dada pela graça e misericórdia de Deus; e o voto deve ser sempre um ato voluntário de agradecimento e não de mérito.

O princípio divino que deve nortear cristão, sempre deve ser esse: “Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus” (I Cor 10.31).

E fica a dica do Salmista Davi: “Que darei eu ao Senhor, por todos os benefícios que me tem feito? Tomarei o cálice da salvação, e invocarei o nome do Senhor. Pagarei os meus votos ao Senhor, agora, na presença de todo o seu povo” (Salmos 116.12-14). É isso.

Sola Gratia
Pr Pedro Pereira


Nenhum comentário:

Postar um comentário