quarta-feira, 12 de março de 2025

Sobre o rito da ceia do senhor


Uma igreja bíblica procura ser e fazer o que está mais próximo das Escrituras. Pois, as Escrituras são nossa regra de fé e prática.

O texto base: 1 Co 11.3-26

“Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão;

E, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim.

Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim.

Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha”.

Paulo começa dizendo que foi instruído pelo Senhor Jesus de como fazer o rito da ceia e agora nos ensina a fazer igual”

O que foi ensinado:

✔ Primeiro, “tomou o pão” - esse elemento simbólico não pode faltar na mesa da Ceia

✔ Segundo, “e tendo dado graças”, do grego “Eucaristeo” – isso fala que é preciso fazer uma oração agradecendo esse momento santo e reverente. É um privilégio conhecer e participar desse momento santo.

✔ Terceiro, “o partiu (pão)” – depois da oração de agradecimento, o pão deve ser partido, fazendo alusão a carne de Cristo que foi partida, rasgada na cruz por nós.

✔ Quarto, “e disse, tomai e comei” – depois de partir o pão o ministrante deve repetir a frase de Jesus, em orientação de que aquele pão, depois de ter dado graça, se torna a memória do corpo de Jesus que foi rasgado na cruz por nós. Esse momento é solene.

✔ Quinto, “Fazei isso em memória de mim” – Ato solene de memorial, de recordação, de olhar para cruz, de se lembrar do sacrifício de Cristo por nós. Logo, o pão deve ser distribuído a todos que estão unidos em Cristo e foram beneficiados por sua morte vicária.

✔ Sexto, “semelhantemente”, “depois de cear” – o mesmo rito do pão deve ser feito com o outro elemento, o vinho. O tomar o vinho deve ser sempre depois de comer o pão. Isso fica claro no rito ensinado.

✔ Sétimo, “tomou o cálice” – O cálice onde se põe o vinho não pode faltar na mesa da ceia do senhor.

✔ Oitavo, “dizendo, este cálice é o novo testamento no meu sangue” – o ministrante deve repetir as palavras ensinadas, mostrando o cálice aos participantes. Sangue aqui é representado pelo vinho no cálice. Após o dar graças, a oração de agradecimento, o vinho comum se torna representação espiritual do sangue de cristo que foi derramado na cruz por nós.

✔ Nono, “fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim” – Fazei isto, significa que, o rito e a ceia, devem ser frequentemente praticados por aqueles que estão unidos em Cristo, é uma ordenança da parte de Cristo. E o beber desse vinho consagrado pela oração, deve ser feito com o sentimento reverente e de recordação em memória de Cristo e seu sacrifício vicário.

✔ Décimo, “Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha” – Esse rito, esse memorial é um anúncio da morte do Senhor, é uma celebração da salvação, mediante seu sacrifício vicário, e deve perdurar até sua vinda novamente em glória.



Esse artigo tem por finalidade demonstrar apenas o rito bíblico ensinado por Paulo e por Jesus, pois se observa que em algumas igrejas aparecem algumas inovações que fogem desse rito, portando, se afastam do texto bíblico. Porém, aqueles que querem se aproximar da Escrituras devem seguir o rito bíblico e não a sua vontade ou imaginação.



Dúvidas que surgem:



- Quem pode participar de ato solene?

Fica claro que são aqueles que estão ligados em Cristo, o seu corpo místico, a igreja espiritual e invisível em todo o lugar em todo mundo.



- E se eu não for batizado nas águas posso participar?

Biblicamente, não há nenhuma proibição clara, mas deve ser para os íntimos, os que nasceram de novo.

Há alguns segmentos evangélicos que proíbem quem não foi batizado nas águas de participar, por entender que a demonstração pública desse novo nascimento, dessa ligação no corpo é o batismo.

Outros, proíbem a participação se a pessoa for de uma outra denominação.

Mas, ressalto que isso é apenas um zelo excessivo, pois não há uma determinação ou orientação bíblica nesse sentido.

Lembrando que Paulo disse: “Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice” 1 Co 11.28.

Portanto, a função do ministrante é apenas orientar sobre quem e como participar desse ato, que são para aqueles que estão em comunhão com Deus, ligados em Cristo, e não impedir ou proibir alguém; veja que a orientação é para o exame individual e pessoal, para cear. Isso vale também para os diáconos que ao auxiliarem o ministrante na distribuição dos elementos da Ceia não devem escolher quem vai comer e beber, mas apenas distribuir para quem pegar.

Vale ressaltar que essa avaliação pessoal deve ser uma reflexão de como estamos, se algo nos acusa, se desagradamos a Deus por algo, sendo o caminho a reconciliação com Deus, como diz Paulo – e assim como desse pão e beba desse cálice; logo, se houver arrependimento e reconciliação, coma e beba, e nunca deixe de participar, esse é o princípio bíblico.

Se a ceia fosse para os justos e imaculados ninguém poderia participar, haja vista todos nos sermos pecadores. O importante é ser um pecador arrependido e redimido, ou perdoado e reconciliado.

Em suma, o ministrante deve por oficio orientar quem pode participar (os ligados em Cristo), mas nunca impedir. Nem Jesus impediu de Judas participar, mesmo já estando dominado pelo diabo.

O exame é individual e o castigo por profanar esse ato também. Veja: “Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor. Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem. Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, quando somos julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo”. (1 Co 29-32)



- Como devemos comer e beber? Juntos ou na medida que vamos recebendo os elementos?

A bíblia nos norteia dizendo: “Portanto, meus irmãos, quando vos ajuntais para comer, esperai uns pelos outros”. (1 Co 11.33)

Fica claro que devemos participar juntos e ao mesmo tempo. Se alguém pegar antes espere todos pegarem os elementos e com ordem o ministrante deve coordenar o momento de todos juntos participarem.



- O que significa as expressões: “Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor” e “para que não vos ajunteis para condenação”. (1 Co 11.29,34)?

Baseado no próprio contexto, fica claro que aqueles irmão não estavam se reunindo de forma reverente, os mais ricos traziam sua comida e não repartiam e nem esperavam por ninguém, os mais pobres não tinham comida ficavam olhando e entristecidos com aquilo, tudo isso demonstrava a falta de amor, de comunhão, de empatia, de bondade, ferindo com isso o ato solene e de amor, um ato de memorial e comunhão, que Cristo esperava deles.

Cadê a gratidão? Cadê o amor sacrificial? Tudo isso demonstrava que a maioria não tinha o Espírito de Cristo, não eram nascidos de novo, não tinham aprendido nada, profanavam aquele memorial santo e sagrado. Agiam como ímpios e sem amor. Por isso, a expressão “não discernindo o corpo do Senhor, por isso ajuntais para a condenação”.

Uns se embriagavam, outros comiam demais em detrimento a outros e se portavam indecentemente como se aquele ato fosse uma festa ímpia e paga, sem respeito nenhum.

O momento da ceia é de comunhão, de perdão, de reconciliação, de agradecimento, de empatia, de comer juntos, de dividir não só a comida, mas o amor e o sentimento de unidade. Somos um em Cristo. Foi isso que Paulo quis dizer. Vide (1 Co 11.17-22)

“Nisto, porém, que vou dizer-vos não vos louvo; porquanto vos ajuntais, não para melhor, senão para pior. Porque antes de tudo ouço que, quando vos ajuntais na igreja, há entre vós dissensões; e em parte o creio. E até importa que haja entre vós heresias, para que os que são sinceros se manifestem entre vós. De sorte que, quando vos ajuntais num lugar, não é para comer a ceia do Senhor. Porque, comendo, cada um toma antecipadamente a sua própria ceia; e assim um tem fome e outro embriaga-se. Não tendes porventura casas para comer e para beber? Ou desprezais a igreja de Deus, e envergonhais os que nada têm? Que vos direi? Louvar-vos-ei? Nisto não vos louvo”.



- O vinho mencionado era suco de uva ou vinho mesmo?

Bom, fica claro pelo próprio contexto que era vinho mesmo, Paulo menciona que alguns que tomaram sem limites ficaram embriagados (1 Co 11.21). O suquinho de uva não os deixaria embriagados, não é? Lembrando que historicamente, suco de uva como entendemos hoje somente começou no século XIX, da nossa era.

Obs.: O suco de uva natural foi produzido pela primeira vez no final do século XIX, por Thomas Welch, um dentista de Nova Jersey, nos Estados Unidos.

Ainda existem poucas informações sobre o estilo do vinho da Santa Ceia, mas sabe-se que o vinho era de uma região mais quente, Negev, ao sul de Israel. Sabe-se também que, por conta desse calor, as uvas tinham mais açúcares, gerando vinhos mais maduros e de maior teor alcóolico.



Não tenho pretensão de estabelecer ou determinar nada, mas fica aqui o rito da ceia e seus princípios norteados e mais próximos das Escrituras. Com a palavra, o apostolo Paulo: “Mas, se alguém quiser ser contencioso, nós não temos tal costume, nem as igrejas de Deus” (1 Co 11.16).

Que Deus nos ajude.



Pr Pedro Pereira.